ENSINO REMOTO PREJUDICA ESTUDANTES DA EDUCAÇÃO BÁSICA DO MUNICÍPIO DE CORAÇÃO DE JESUS - MG

06/07/2020

Estudantes da área rural do município de Coração de Jesus, comunidade de Passagem Funda, no norte de Minas, estão sendo lesados com o sistema de ensino de aulas remotas implementado na desde final do mês de abril, segundo pesquisa realizada por universitários da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, residentes na comunidade local.

Fonte: Gil Leonardi / Imprensa MG
Fonte: Gil Leonardi / Imprensa MG

Por Mariana Soares Ferreira e Rosiane Soares Pereira 

As aulas da educação básica foram suspensas em todo Brasil desde março de 2020 em consequência da pandemia do novo coronavírus no país. Com isso, o Ministério da Educação (MEC) autorizou que as atividades escolares pudessem retornar com o sistema de ensino remoto. Somado a isso, de acordo com o jornal online G1[1], "Em 1º de abril, uma medida provisória estipulou que em 2020 as escolas deverão cumprir o mínimo da carga horária". Dessa forma o MEC autoriza que as atividades remotas valham como carga horária presencial.

Em Minas Gerais, a Secretaria Estadual de Educação de através do Conselho Estadual de Educação (CEE) - MG regulamentou a volta das aulas em sistema remoto. Segundo o Jornal o Tempo[2], o CEE-MG (2020) estabeleceu que, unicamente por conta das medidas de prevenção à covid19, o ensino remoto valerá como dia letivo para estudantes do ensino fundamental e médio e para a educação profissionalizante. Há, ainda, a ponderação de que se observem as condições de acesso de escolas, estudantes e professores às plataformas online.

No entanto, o que se nota é que o retorno às aulas por meio do ensino remoto em meio a pandemia está aumentando a desigualdade no sistema de ensino em todo o país, uma vez que atinge principalmente estudantes de área rural e outras periferias sem acesso adequado à internet. Na comunidade rural de Passagem Funda, município de Coração de Jesus - MG, não está sendo diferente.

Em conversas com graduandas da UFVJM, autoras deste texto, os estudantes da Escola Estadual Senhorinha Muniz, de Passagem Funda, relatam que não estão acompanhando as atividades propostas nas apostilas oferecidas pelo governo estadual, pois o acompanhamento dos professores não tem sido adequado, bem como o acesso às via tv ou internet; sendo que os conteúdos do material nunca foram trabalhados durante as aulas. Outro fator complicado é que os pais, a quem resta pedir ajuda na falta do professor, também desconhecem grande parte dos conteúdos a serem repassados. Ou seja, não está sendo considerado que a maioria dos pais tem baixa escolaridade, uma infeliz realidade do nosso país que também perpassa por muitas famílias da comunidade de Passagem Funda e comunidades vizinhas. Com isso, as crianças e adolescentes não estão conseguindo acompanhar o ensino remoto.

São vários os aspectos que interferem diretamente nos processos de ensino e aprendizagem de jovens do campo; com o ensino remoto tudo fica ainda mais difícil. Dente os fatores dificultadores, além da internet citada anteriormente, é a falta de computadores para acompanhar as aulas on-line, já que a tv pública não chega na região, e acessar materiais didáticos. A internet, na maioria dos casos relatados pelos estudantes, é de baixa qualidade ou inexistente em algumas localidades.

Ao levarmos em consideração as desigualdades sociais, políticas, culturais e históricas, outro problema encontrado é um material padrão para todo o estado que possui diferentes comunidades e contextos educacionais. Nessa situação, o mais adequado, se houvesse recursos de infraestrutura, seria os próprios professores produzirem o material escolar para seus alunos, pois conhecem suas realidades.

Diante de tantos desacertos, que o momento nos sirva, pelo menos, para uma problematização do ensino a distância e a contextualização de conteúdos escolares e materiais didáticos. Se o imediatismo da situação causa tantos problemas, repensar tais situações a longo prazo, visto que a pandemia está em processo de entendimento e não se sabe a finalização deste caos que assola todo o mundo, é um dever.


[1] <https://g1.globo.com/educacao/noticia/2020/06/02/mec-autoriza-que-atividades-remotas-passem-a-valer-como-carga-horaria.ghtml>. Acesso em: 06 de julho de 2020.

[2] <https://www.otempo.com.br/cidades/conselho-estadual-regulamenta-aula-remota-para-a-educacao-basica-1.2317512>. Acesso em: 06 de julho de 2020.

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