O RACISMO E A POBREZA DA POPULAÇÃO NEGRA BRASILEIRA

29/04/2020

A sociedade brasileira deve enfrentar de frente um de seus maiores obstáculos: aceitar sua própria diversidade e combater o racismo. O Brasil é um país de grande miscigenação e a maioria de seus habitantes descendem dos negros, porém o racismo persiste em grande intensidade causando inúmeros problemas como a exclusão, desigualdade racial e social.

OPINIÃO*

Por Leidimar Gomes da Costa e Nayara Pereira Gomes

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Fonte: <pixabay.com>

Convém discutirmos como o racismo se insere na sociedade nessa opressão histórica que hierarquiza as etnias. O racismo surge na sociedade a partir do período colonial, com a exploração e dominação dos povos indígenas e africanos. A segregação racial é uma herança que perdura e, nos dias atuais, após 198 anos da "independência" da colônia, ainda enfrentamos um cenário cujas pessoas têm seu valor definido pela quantidade de melanina que possuem, ou seja, pela cor da pele.

Não podemos desconsiderar os avanços que o povo negro alcançou no decorrer do tempo como o acesso à educação crescente nos últimos anos. A Lei Áurea, promulgada no ano de 1888, em tese, extinguiu a escravidão dos negros no Brasil; no entanto, os negros, mesmo livres perante a lei, foram jogados nas ruas e, desde então, estão presos ao racismo e, consequentemente, a péssimas condições de vida devido à grande dificuldade de conseguir empregos. Com baixos salários, vivem, em maioria, nas favelas e demais periferias urbanas. Analisando os efeitos ocasionados pelo racismo, é lamentável. Por isso, é imprescindível apresentar claramente sua grande contribuição no aumento da pobreza da população negra brasileira, que é afetada diretamente, ainda, no acesso ruim à saúde, à educação, à moradia, entre outros. A constituição de 1988 estabelece o racismo como crime, porém isso ainda não tem sido suficiente para que os opressores reavaliem seus atos perante a sociedade, como vemos na mídia cotidianamente.

O nível de pobreza no Brasil tem se elevado nos últimos anos em decorrência da crise política e econômica da nação. Nas trilhas do neoliberalismo, ainda que sejamos um país rico e com diversas potencialidades, o país enfrenta o aumento desenfreado do desemprego e, consequentemente, de pobreza. Após a pandemia do coronavírus chegar ao Brasil, as expectativas só pioram. O desemprego acompanha frequentemente o povo negro, que muitas vezes não consegue emprego por não se encaixar em um padrão imposto desde muito tempo pela sociedade, que defende que as pessoas brancas e de cabelos lisos são rotulados como pessoas superiores e mais capacitadas para lidarem com o público. Segundo Carmo (2017)[1], a relatora especial das Organizações das Nações Unidas sobre questões de minorias afirma que os negros brasileiros correspondem a 70,8% de todos os 16,2 milhões que vivem em situação de extrema pobreza. Esses dados são tão significativos como alarmantes, pois comprovam que os negros estão enfrentando uma luta injusta por direitos, uma vez que perdem a valorização de suas capacidades por serem diferentes. As dificuldades enfrentadas por esse povo são inúmeras, desde o respeito dos demais indivíduos quanto o acesso a políticas públicas e espaços formativos, até a morte por "suspeitas", como também se vê nos noticiários.

Analisando ainda a situação de pobreza no país, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)[2] para 2016 mostram que entre os 10% mais pobres da população brasileira, 78,5% são negros (pretos ou pardos), contra 20,8% de brancos. Já entre os 10% mais ricos, a situação se inverte: 72,9% são brancos e 24,8% são negros. Nesse sentido, é indubitável que a população negra apresenta mais fragilidade e se encontra em um cenário cujo suas potencialidades são menosprezadas pela sociedade racista. Não se pode camuflar esse fato, apesar de a sociedade insistir em esconder os problemas causados pelo racismo. Se pararmos para analisar a mídia, notamos que os papéis que as pessoas negras ocupam são sempre inferiores (empregados domésticos, faxineiros, pobres e marginais) e em menor quantidade, tornando notório o racismo.

Outra questão que a mídia não expõe é o racismo no mercado de trabalho, onde os cargos e profissões que as pessoas negras ocupam são, na maioria das vezes, funções de baixa remuneração. Isso nos mostra o quanto o racismo contribui para o aumento da pobreza, pois se as pessoas não conseguem acesso ao mercado do trabalho, de qualidade, evidentemente não têm acesso à renda. Nesse debate, é discutível e duvidoso que a pobreza não esteja relacionada à cor da pele, mas à capacidade e persistência das pessoas em buscarem melhores condições de vida. Pois para falarmos sobre a meritocracia é necessário compreender que ela só se torna possível quando os envolvidos partem do mesmo ponto, sob as mesmas condições. Nesse sentido, deve-se compreender o contexto em que cada pessoa está inserida, pois, mesmo que haja oportunidades, os sujeitos possuem condições diferentes de acesso ao conhecimento. Há uma grande diferença entre justiça e igualdade e a população negra possui dificuldades de acesso à educação, ao mercado de trabalho e a políticas públicas, o que torna complexa sua estabilidade financeira. Assim, para garantir igualdade, haveria de se oferecer a essa população as mesmas possibilidades de acesso a escolas, artefatos e bens culturais como bibliotecas, cinemas, teatros, viagens etc.

Partindo dos argumentos e constatações postos, medidas se tornam tão necessárias quanto urgentes e cabe ao estado ampliar as políticas afirmativas como o aumento e facilitação da reserva de vagas para os negros nas empresas. Também, se faz necessário que a sociedade valorize os produtos provenientes dos afrodescendentes como artesanato e comidas típicas. Outra medida cabível é o desenvolvimento de projetos educacionais nas escolas visando atenuar os efeitos e diminuir os preconceitos. Espera-se com tais ações erradicar esse impasse que vem há anos assolando nossa população e contribuir para a constituição de uma sociedade mais justa e igualitária.


*Texto produzido a partir da disciplina Diversidade e Educação, da Licenciatura em Educação do Campo (LEC) da UFVJM sob a orientação do Prof. Carlos Henrique Silva de Castro.

[1] https://www.nexojornal.com.br/ensaio/2017/A-pobreza-brasileira-tem-cor-e-%C3%A9-preta. Acesso em 28/04/2020.

[2] https://fpabramo.org.br/2018/11/30/negros-sao-78-entre-os-mais-pobres-e-somente-25-entre-os-mais-ricos/. Acesso em 28/04/2020.

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